David Cohen*

Se eu soubesse fazer origamis
não lhe escreveria poemas
talvez eu fizesse um barquinho
e lhe convidasse para um passeio
ou em dobras moldasse uma estrela
para você se sentir em casa.
Se eu soubesse fazer origamis
não lhe escreveria poemas
faria apenas um chapéu
para esconder meus pensamentos
e das minhas mãos brotariam gaivotas
que eu ensinaria a lhe entregar mensagens.
Se eu soubesse fazer origamis
não lhe escreveria poemas
nem cartas nem canções
e trocaria as palavras pelos vincos
para aprender a dobrar um coração
que pulsasse dentro do teu peito.
Se eu soubesse fazer
versos, além de origamis
lhe daria flores que nunca morrem
palavras que nunca dormem
e um amor que dure para sempre.
Se eu soubesse fazer origamis
veria que a poesia do verso
se esconde nas duras dobras do envelope.
***
David Cohen é poeta e advogado. Em 1997, aos 15 anos, foi selecionado no festival de poesia promovido pela Rádio MEC. Em 1999, seu poema “A flor do tempo” foi publicado na antologia “10 vezes literatura” da Litteris Editora. Em 2000, foi um dos organizadores do Grupo PraLavras, que se reunia semanalmente no Parque Lage para a declamação e produção dos textos. Em 2012, seu poema “Origami” foi publicado na antologia “Poemas Cariocas 2012″ da Editora Ibis Libris. “Olho Nu” é o seu primeiro livro.